O trabalho multicêntrico reuniu esforços de 258 pesquisadores ao redor do mundo, com dados coletados em 63 países, e foi publicado na revista Science Advances (v. 10, n. 6), em fevereiro de 2024.
O estudo testou intervenções que, baseadas nas ciências comportamentais, podem motivar as pessoas a mudarem suas crenças e comportamentos em relação às mudanças climáticas. Para tanto, entre julho de 2022 e julho de 2023, foram coletados dados de 59.440 participantes em 63 países, avaliando 11 intervenções para estimular a redução dos danos climáticos, a partir de:
crenças sobre as mudanças climáticas;
apoio às políticas climáticas;
compartilhamento de informações climáticas;
plantação de novas árvores.
Quanto às crenças sobre as mudanças climáticas, os resultados que intervir pela "Redução da distância psicológica" aumentou as crenças em 2,3%, demonstrando que, quanto mais os indivíduos percebem a proximidade dos efeitos climáticos, seja geográfica, social ou temporalmente, maior é a sua crença. A redução dessa distância psicológica é o que acontece quando, por exemplo, um evento abala o indivíduo ou alguém próximo a ele. Essa proximidade facilita reconhecer a existência de diversos fenômenos e, consequentemente, pode facilitar também o engajamento em medidas para reduzir ou solucionar os problemas deles decorrentes.
“Escrever uma carta para alguém de uma geração futura” aumentou o apoio às políticas climáticas em 2,6%, demonstrando que imaginar o clima no futuro pode reduzir a distância psicológica entre as escolhas atuais e as consequências climáticas para futuras gerações. Quanto ao compartilhamento de informações climáticas, a maioria das intervenções apresentou algum efeito, mas “Induzir emoções negativas” aumentou em 12,1% a disposição ao compartilhamento. Os autores atribuem esse maior efeito ao baixo esforço de poucos cliques em um dispositivo eletrônico com acesso à Internet. No estudo, entretanto, o tom pessimista das mensagens sobre fatos científicos dos impactos climáticos, comum em comunicações sobre o clima, reduziu a disposição ao plantio de árvores, comportamento também diminuído ao se tentar “Reduzir a distância psicológica”. Embora plantar árvores seja uma das medidas mais eficazes para a contenção dos efeitos climáticos nefastos, ele demanda mais esforço
A partir desses resultados, o estudo evidenciou que intervir de forma eficaz requer intervenções personalizadas para cada população e cada um dos diferentes comportamentos ou desfechos desejados. Isso se dá, em especial, pelas características particulares do público, cujas crenças climáticas iniciais modulam novas crenças, intenções e comportamentos.
No nível global, embora a maioria das pessoas acredite nas mudanças climáticas e apoie políticas de combate ao problema, indicando consenso global sobre a gravidade e a necessidade de ações para mitigá-lo, algumas variações entre países indicam que normas locais podem ser mais determinantes à eficácia das intervenções comportamentais. Os efeitos, pequenos e variados, demonstram que preservar o clima requer uma combinação de abordagens sensíveis às diferentes culturas. Na prática, os achados desse estudo multicêntrico demonstram que ações “de cima para baixo” (top-down), como a implementação de políticas governamentais, podem ser mais eficazes do que esperar que as mudanças venham “de baixo para cima” (bottom-up), a partir de mudanças comportamentais individuais. Estudos robustos como esse orientam, em particular, os formuladores de políticas públicas, auxiliando-os a focar em medidas estruturais para lidar com a crise climática.